Grupo de História das Populações

Investigadores Projecto Espaços Urbanos

 

MONTEIRO, Miguel - Migrantes, Emigrantes e Brasileiros (1824 - 1926)

Na cidade de Fafe, existem evidências materiais e imateriais simbólicas que justificam, só por si, o estudo da emigração para o Brasil. Tais evidências são a consequência explícita e visível dos investimentos daqueles que aí fizeram "fortuna", e que em tempo de "Torna-Viagem" ou no seu regresso definitivo, aqui se instalaram.

Para além do Brasil como destino predominante da emigração intercontinental, existiram outros destinos migratórios de carácter regional, particularmente para o Alentejo que reflectiram, por sua vez, estratégias sociais e familiares particulares.

Estudar este fenómeno social, económico e cultural local, não é certamente conhecê-lo apenas através das evidências objectivas do retorno, ou exclusivamente, na perspectiva dos efeitos quantitativos, mas, e necessariamente, compreender, através deles, as causas e as raízes estruturais da dinâmica dos diferentes comportamentos migratórios, regionais e intercontinentais dos actores sociais locais.

Por isso, percorremos os caminhos do processo histórico deste espaço geográfico no sentido da descoberta do quadro geoeconómico e social do concelho e das linhas de continuidade administrativa e territorial, e a sua relação com a construção de uma matriz determinante da migração e da emigração como comportamento social local, bem como a existência de estruturas sócio-económicas marcantes de diferenciados comportamentos face à saída e ao retorno.

Procurámos nas estruturas sociais, económicas, culturais e simbólicas, as evidências que justificassem diferenças na mobilidade e nas posições sociais e estruturas familiares na comunidade de origem e, também, as motivações e estratégias de escolha dos itinerários.

Tivemos em conta, para o estudo da migração e da emigração, o contexto espacial delimitado ao território do concelho de Fafe, o enquadramento temporal delimitado aos anos de 1834 e 1926 e os condicionalismos do processo histórico, administrativo, económico e social então ocorridos.

A delimitação temporal referida teve em conta a originalidade das fontes do fundo local (registo de passaportes, termos de abono de identidade para emigrantes, fiança ao recrutamento, recenseamentos eleitorais e deliberações municipais), da responsabilidade da administração do concelho, a qual correspondia, por mera coincidência, a dois momentos importantes de transformação de regime em Portugal: o Liberalismo e o Estado Novo. Outras fontes, nomeadamente as dos fundos eclesiásticos locais, deram corpo e fundamentos indispensáveis ao nosso estudo.

Assim, definimos a problemática da nossa investigação do seguinte modo:

1- Em que medida a estrutura social e espacial constrangeu, facilitou e marcou a migração e a emigração para diferentes itinerários, entre 1834 e 1926?

2- Qual foi a importância da migração e emigração concelhia nas estratégias de reprodução e/ou transformação municipal?

3- Qual foi a importância da emigração nas trajectórias de reprodução e/ou mobilidade social?

Como resultado do processo da nossa investigação, apresentamos aqui os dados e as conclusões a que chegamos, organizadas em cinco partes:

1.ª Problemas, quadros teóricos, métodos e fontes;

2.ª Fafe - Construção de um território;

3.ª Mobilidade: indivíduos, estruturas sociais e territórios;

4.ª População, mobilidade e agregados familiares numa freguesia tipo;

5.ª Retorno: evidências e representações, antecedidas de três questões preliminares: emigrantes e "Brasileiros", emigração no século XIX - contextos e perspectivas, e Fafe - uma vila eleita pelos "Brasileiros" de retorno.

Este trabalho tem, assim, como incidência central, o estudo da migração e particularmente da emigração como fenómeno ocorrido no século XIX e nas primeiras três décadas do século XX, marcado por contextos políticos, históricos, económicos e sociais nacionais e perspectivado nos contextos da sua inserção espacial local e nos processos de construção de uma territorialidade indiciadora da matriz histórico-social, integradora da mobilidade e do surgimento do "Brasileiro" deretorno como efeito de trajectórias sociais.