Grupo de História das Populações

Investigadores Projecto Espaços Urbanos

 

GOMES, Maria Palmira da Silva - Estudo Demográfico de Cortegaça (OVAR) - 1583-1975)

Neste trabalho, a autora procura avaliar a influência da nupcialidade, fecundidade, mobilidade e mortalidade no comportamento global da população. Não dispondo para este região de estudos de micro-análise demográfica ou de quaisquer outros que explorem, de forma contínua, dados nominativos, privilegiou-se as comparações com outras paróquias reconstruídas, ainda que afastadas geograficamente, Alvito S. Pedro, Santa Eulália, Guimarães, paróquias transmontanas e Sul do Pico. A autora tentou ainda encontrar e explicar, nas variáveis demográficas analisadas, as continuidades e os momentos de ruptura.

Nesta análise, a segunda metade do século XIX marca uma viragem nos comportamentos demográficos da população.

Globalmente, os nubentes, em Cortegaça, ascendem ao matrimónio mais cedo de que nas outras paróquias reconstruídas. Esta antecipação na idade média ao primeiro casamento pode estar associada às princiais actividades económicas da freguesia: agricultura (em declínio), tanoaria e cordoaria, assumindo estas particular relevância a partir de meados dos século XIX.

Na análise do comportamento diferencial, a aprendizagem de um ofício influenciava a idade de acesso ao matrimónio. Os tanoeiros , sujeitos a uma aprendizagem mais demorada, ascendiam ao matrimónio mais tarde do que os cordoeiros .

A mortalidade, principalmente a infantil, foi bastante intensa, impedindo um maior crescimento da população. Apesar de não ter encontrado anos com crises mortíferas, apenas se destaca o ano de 1896, os anos de submortalidade foram frequentes, contribuindo para o saldo fisiológico negativo, em alguns períodos do século XIX.

A década de 1850 foi bastante mortífera. As epidemias grassaram no país e, em Cortegaça, os seus efeitos reflectiram-se nas variáveis demográficas e, consequentemente, no ritmo de crescimento da população.

A autora conseguiu ainda identificar que as mulheres casadas, na década de 1860, aparesentavam a maior descendência teórica (8,79), continuando, na década seguinte, a descendência elevada (8,03). No entanto, o controlo da natalidade é visível na penúltima década do século XIX. À descend~encia teórica de 8,03, das mulheres casadas na década de 1870, opõe-se a descendência teórica de 6, 76, das mulheres casadas na década de 1880. A partir desta data, a investigadora constata o decréscimo, ainda que não linear, da fecundidade das mulheres de Cortegaça, tornando-se nítida, a limitação do número de filhos por casal.

O aumento do número de filhos por mulher casada, sabendo que a ilegitimidade não atingiu níveis elevados, a par da relativa estabilidade dos níveis de mortalidade, contribuíram para o "salto" na taxa de crescimento da população verificada na década de 1860, tanto mais evidente quanto a década de 1850 foi uma década de crise. Nas décadas posteriores o ritmo de crescimento é menos acelerado.

Apesar da introdução de novas indústrias na freguesia, o crescimento parece ter sido exagerado, sendo uma parte da população obrigada a deslocar-se para fora da paróquia.

O Porto funcionou como pólo de atracção, principalmente para os tanoeiros. Desde muito novos se deslocavam para esta região, permanecendo ali durante toda a semana. Outro pólo de atracção foi o Brasil. Atraiu elementos das mais diversas profissões destacando-se, no entanto, as profissões do sector secundário.