Grupo de História das Populações

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Biodemografia do Concelho da Madalena

Biodemografia do concelho da Madalena. Estrutura demográfica e genética de uma população açoriana da ilha do Pico é o primeiro trabalho publicado em Portugal usando de forma aprofundada os recursos da Demografia Histórica em aproximação à Genética das Populações Humanas.

A essa grande originalidade, ao rigor e ao aparato científicos próprios de uma dissertação de doutoramento de grande nível académico, junta-se a elegância do estilo de Carlota Santos que permite ao leitor comum perspectivar, antes de mais, a pujança reprodutiva das comunidades que lograram produzir riqueza na terra mais bravia das ilhas açorianas.

A informação decorrente dos registos de baptizados, casamentos e óbitos de todas as paróquias do concelho da Madalena, desde S. Caetano às Bandeiras, para um período que se estende dos finais do século XVII à segunda metade do XX, foi tratada em cruzamento com listas de habitantes, formando-se bases de dados com o percurso individual e familiar de cerca de 74.000 indivíduos.

Só por si, essas extensas cadeias genealógicas, disponíveis na Internet e, de forma mais facilitada, em suporte informático anexo a este trabalho, constituem uma extraordinária valorização de um património biológico que toca não só àqueles que aqui nasceram, mas também aos outros que ao longo de sucessivas gerações daqui partiram, pontuando as outras ilhas açorianas, ou cruzando um mar imenso para firmaram a sua força génica em terras de promissão.

Esse património biológico é tratado neste livro em grande aprofundamento cultural. Não é só estudado o espaço de inserção das diferentes comunidades paroquiais e os ritmos plurisseculares da evolução das respectivas populações à luz do cruzamento das diferentes variáveis demográficas, como são identificados os diferentes grupos sociais e analisados comportamentos diferenciais.

Confirmada a alta esperança de vida das populações tradicionais da ilha do Pico, em relação a um contexto europeu de níveis elevados de mortalidade infantil e de mortalidade geral, com uma sobrevivência espantosa de octogenários ou mesmo de nonagenários, um acompanhamento especial foi dado ao fenómeno da Nupcialidade. Num quadro corrente de fecundidade próxima da natural, embora com indícios de modernidade na transição do século XIX para o XX, uma modernidade precoce no contexto nacional, o acesso ao casamento adquire relevo particular. Acompanhamos a evolução da idade ao casar, a evolução da percentagem daqueles que não chegaram a casar, como penetramos, para os que casam, na complexidade de escolha do cônjuge e nas suas consequências na afinidade genética das populações.

Como académica, mas também como picoense, agradeço a Carlota Santos a generosidade na oferta pública de um trabalho de tal valor.